sábado, outubro 20

I AM PROPAGANDA





Eu não sou mais eu, Natanael.
Quando eu nasci, me registraram no cartório.
E logo em seguida entrei para o cadastro de consumidores
O leite materno me sustentaria nos seis primeiros meses
Mas me deram leite INDUSTRIalizado
Para afogar meu choro, me deram um pipo de MARCA
Eu só parava quando ouvia um SUCESSO na FM
Mas tinha que ser um daqueles com apelo COMERCIAL

Eu não sou mais eu, Natanael.
Na infância desejei entrar na TV
Como não conseguia adentrá-la
Então desejei um trem da Estrela que vi na TV
Mas um dia descobriram que eu era míope
E colocaram em meu rosto um ÓCULOS de MARCA
Dai minha visão passou a ser MARCADA também

Eu não sou mais eu, Natanael.
Quando cai correndo um dia aos 10 anos
Colocaram na minha ferida um BAND-AID
E depois eu quis fazer natação
Mas meu pai não encontrou a bóia da MARCA
Da MARCA que a instrutora indicou
Depois veio a SESSÃO DA TARDE, as NOVELAS
Então eu quis ser astronauta
Triste ideia o máximo que consegui
Foi colocar um dentro de uma nave
Uma nave feita de LEGO

Eu não sou mais eu, Natanael.
Na adolescência quis ser ROCKSTAR
Mas logo depois meu violão GIANNINI quebrou
Um dia desejei uma tal garota
Mas ela ia pra escola de ESCORT
E eu de MOUNT-BIKE
Ela usava perfume do BOTICÁRIO
Eu fedia o chulé do meu ALL-STAR

Eu não sou mais eu, Natanael.
Depois eu quis perder a virgindade
Não deu certo porque ela disse:
Que só iria com camisinha JONTEX
Hoje quero ser escritor
Mas me exigem um BEST-SELLER
Quer dizer bem visto pelos demais
E agora estou certo de uma coisa
Eu não sou mais eu, Natanael.
E nem vocês, são vocês.
Nós somos PROPAGANDA.





Zeca Baleiro, Por onde andará Stephen Fry?




Se no final dos anos setenta tivemos o álbum Bandeira de Aço como o marco inicial dos registros das sonoridades maranhenses, Por onde andará Stephen Fry representa essa experiência com pitadas de globalização tanto em letra como em música também. Com produção de Mazzola o primeiro disco de Zeca Baleiro não poderia ter um produtor mais apropriado, Mazzola produziu ninguém menos que Raul Seixas, e sem dúvidas na arte de misturar os dois são bastante parecidos, além de também fazer músicas tendo como pano de fundo o cotidiano, no caso de Zeca essa fixação vem dos tempos de militância cultural em São Luís, nos anos oitenta Zeca Baleiro era bastante próximo dos poetas e escritores da Akademia dos Párias, grupo de artistas de São Luís que buscavam caminhos literários a margem da Academia Maranhense de Letras, tendo como maior influencia os escritores Beats. Muito das conexões que Zeca Baleiro propõe em Por onde andará Stephen Fry vem dessa convivência, no período do lançamento do álbum Zeca Baleiro já possuía doze anos de carreira, no inicio da estadia em São Paulo, dividia o apartamento com Chico Cézar, que junto de Zeca, Lenine, Paulinho Moska, Rita Ribeiro, Arnaldo Antunes e outros formavam o grupo que foi chamado pela critica de MPB 90.

O nome do álbum é bastante curioso pelo motivo de Stephen Fry ser um ator Inglês de teatro que estava em decadência, certa amanhã Zeca leu no jornal que o ator havia desaparecido, dizia a matéria que um dos prováveis motivos seria seu atual ostracismo, logo depois do lançamento Zeca conseguiu contato com o mesmo inclusive. O álbum é repleto de boas músicas nele Zeca passeia pelo bumba meu boi, reggae, heavy metal, ponto de macumba e belíssimas baladas, a faixa “A flor da pele” que cita como música incidental “Vapor Barato” de (Wally Salomão e Jards Macalé) o levou a ser convidado por Gal Costa a fazer uma participação no seu festejado Acústico MTV, foi quando o Brasil viu a cara de um artista prolífico e genial proveniente de Arari no Maranhão.