sexta-feira, julho 27

Você


 

Sua amiga. Na verdade nossa amiga veio aqui. Aqui. Quero dizer aqui em casa e disse que você queria conversar sério comigo. Conversar sério. Como conhecia bem você (sei que é um pouco ou demais pretensioso dizer que conheço bem você ou que conheço bem alguém) tentei especular que era algo que envolvia sentimentos, emoção, lado afetivo, coração, paixões frustradas, sexo desastrado, expectativas amorosas. Acho pouco provável que sua mestruação atrasou, a camisinha estorou ou tem dores no baixo ventre. E tenho menos certeza que quer se matar porque já se matou outras vezes. No máximo espertar as mãos com um lápis pontiagudo quando está down.

Liguei pra você deitado na desarrumada cama minha e abri a janela com a ponta dos pés e você perguntou do outro lado da linha com sua voz ansiosa e expirações fortes e repentinas e consigo sentir presumir ir no seu coração batendo acelerado tun tun tun tun tun tun tun:

- O que foi!? - Nem falou “alô” como os normais.

Então falei de nossa amiga que veio aqui hoje pela manhã e disse que você queria falar comigo algo de importância, sério. Você então perguntou se eu tinha encontrado o filme que me emprestou. Não – respondi e  perguntei se era isso a coisa tão importante. - Sim.