segunda-feira, agosto 29

ABoRReCenTES


TRATO

Pedro e eu tínhamos um trato. Ele era péssimo em Geometria Analítica, Leis de Newton, Revolução industrial e Teorias sobre Evolução. Eu dava pesca pra ele e ele me arranjava à maconha. Me ensinou a bolar (outra palavra nova no meu dicionário) e tragar direito e me deu seu colírio “isso é pra pingar depois no olho e não deixá-los vermelhos” e um cd gravado do Bob Marley . “Saca esse som João. Tu vai viajar ainda mais.” – e ria com sua cara de bêbado.
Depois do jogo trágico. Cheguei em casa e me dirigi automaticamente ao meu quarto. Botei o Bob. Acendi o baseado e fiquei viajando se a vida era um caos completo ou se as estrelas tinha alguma lógica no universo.
Alguém batia no meu quarto. Apaguei o negócio e aspergir bastante perfume no ar e abaixei o som.
MEU PAI (gritando do outro lado da porta) - João há meia hora estou batendo nessa porta. Esse som tá muito alto. Não to conseguindo assistir meu filme. Que cheiro é esse, hein?
Acho que o cheiro ultrapassou as barreiras físicas de concreto do quarto. Abri a porta com os braços pra cima como um suspeito sendo atuado em flagrante por um policial me justificando logo:
EU (um pouco nervoso) - É lavanda de alfazema, eu to com chulé...
MEU PAI (mais nervoso) - Botava talco.
EU - Não tenho. O cheiro é a advindo da fusão entre chulé e alfazema.
MEU PAI (apontando para meus olhos) - Estão vermelhos.
(Me esqueci de botar o colírio) A acusação era visível.
EU  - Pequei conjuntivite.
MEU PAI - Mentira, João de Ribamar (quando estava com raiva usava meu nome e sobrenome) Eu conheço muito bem esse cheiro. Eu fumei maconha no Movimento Estudantil na Universidade e trabalho também com pacientes drogados. Você não me engana. Você esta usando maconha, João de Ribamar?
EU - Que isso pai? Sou o melhor aluno da turma... Por que eu ia fazer isso?
MEU PAI - Não sei. Você que deve saber.
Meu pai é gente boa (Tenho pra mim que ele se masturba mais do que eu) Mora só eu e ele. Ele é Enfermeiro e trabalha num hospício. Meus pais são separados. Minha mãe o deixou por outra mulher (é sério). Foi algo traumatizante pra ele. Me lembro que passou quase um ano sem se relacionar intimamente com outra mulher. E depois desse fato fatídico ficou viciado em filmes. Não sei ainda qual é a relação. Se é que existe. Traição e se tornar cinéfilo.
EU (Na maior cara de pau) - Papai, maconha é legal... Eu tenho altas idéias.
Papai nunca me bateu na vida, mas posso dizer que ele estava com muita raiva naquele momento. E sempre que está com raiva chuta alguma coisa. E chutou. A porta do meu quarto. 
MEU PAI (super zangado) - Olha isso é uma porta aberta pra outras drogas (e chutou mais uma vez a porta do meu quarto) Tem muitos pacientes no hospício que começaram assim e terminaram viciados em cocaína e outras drogas pesadas. Ficaram pinel da cabeça, entendeu? (Fazia gestos imitando um doido enquanto dava o sermão).
(EU) - Pai isso faz parte da vida de um adolescente... É uma fase de descobertas... Você mesmo dagora falou que já fumou.
(MEU PAI) - Na minha época não era assim. Fumei já na universidade e era cabeça feita.
(EU) - Cabeça feita...?
(MEU PAI) - Maduro... Eu tenho um amigo do tempo da faculdade que trabalha com adolescentes assim. Você vai conversar com ele.
(EU) - Ele fumou com você na universidade, no movimento estudantil?
(MEU PAI) - Não! Ele era muito cristão e não gostava de política.
(EU) - Se é para o bem da humanidade eu converso com ele.
(MEU PAI) - Bem pra você. E a o hospício já ta cheio de humanidade que começaram assim.

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FINAL DO CAMPEONATO DE FUTEBOL ENTRE ESCOLAS

Eu e Pedro fumamos um baseado antes do jogo – pra entramos confiantes e tranquilo (Segundo as palavras de Pedro) Jogávamos em casa e precisávamos apenas de um empate.
Não sei se isso influenciou o primeiro gol que levei por baixo das pernas, e dois gols no canto direito, ainda pulei, mas cheguei atrasado, ou melhor, lento. O canto direito sempre foi meu ponto fraco e o pé de esquerdo de Pedro? Estava péssimo, torto. Mas não o de Garrincha. Deu só quatro chutes pro gol. Um pra arquibancada, um no teto da quadra, um nas mangueiras e outro... Que acertou a trave.  Ainda foi expulso o miserável, chegou atrasado numa dividida e quase quebrou a perna do pivô adversário que avançava pelo meio. Acho que estávamos meio doidões nesse jogo. Essa é a verdade. Pior do nosso técnico que arrancou os poucos cabelos que lhe restavam.
O importante é competir – ironizou Pedro – Temos a medalha de prata. (Louco)
Pensei que o técnico ia dar um murro nele. (Eu dava)