quarta-feira, agosto 3

Lulu

Era pra ter uma infância como qualquer menino de sua idade, se não preferisse brincar de boneca e pular corda com as meninas e falasse com uma voz mais grave. Tornou-se cabeleireiro e mudou o nome carinhosamente para Lulu.

Apaixonou-se por um Pastor, a razão que lhe levou a comprar uma Bíblia ilustrada no Novo Testamento e frequentar cultos aos domingos. Não prestava muita atenção nas palavras dele, mas para o formato de seu corpo debaixo do smoking preto e seus brilhantes olhos azuis, coincidentemente como as de Jesus Cristo na ilustração da sua bíblia.

Um dia criou coragem e foi falar pessoalmente com o pastor. Gaguejou um pouco e comentou alguma coisa sobre a salvação eterna. O pastor discursou que só a salvação eterna quando nos entregamos plenamente a Deus. Lulu estava decidido que naquele momento ia se entregar ao Pastor. Ele percebeu algo estranho naquele rapaz magro, era sua voz fina e o jeito delicado que mexia as mãos. Então bufou que segundo Coríntios os afeminados não herdarão o reino de Deus.

- Não vão para Céu? E vão pra onde? - Perguntou assustado Lulu.
- Vão direto para o inferno, não passam nem pelo purgatório, pois aquilo era obra do demônio!
- E há algum jeito de evitar o destino fatídico?
O Pastor raciocinou com o cenho franzido e o punho cerrado sob o queixo e sentenciou:
- A não ser que volte a ser homem!
- Como?
O pastor abriu bem os olhos e enumerou com os dedos:
- Arranjar uma namorada, de preferência evangélica e tentar se comportar com um Homem de verdade, assim como eu.

Fez tudo que o Pastor receitou, não foi difícil arranjar uma namorada evangélica, pois era belo e sabia versículos inteiros de cor. Mas foi um pouco mais difícil falar grosso e mexer as mãos como um “homem de verdade”.

Deu seu testemunho num culto dedicado especialmente a ele. Reafirmou que “aquilo” tinha sido obra do demônio que lhe desviou de seu verdadeiro caminho: a de ser homem. Lulu agora era coisa do passado. No final do testemunho disse baixinho ao pé do ouvido do Pastor quando este foi lhe dar os parabéns pela mudança de hábito:

- Por amor se volta até a ser homem.

"È desconcertante rever o grande amor"


Estava em casa sem fazer coisa alguma.Esperava telefonemas, mas nenhum.Procurei alguém no msn, ninguém.Pensei : "Estou sozinha! Cadê todo mundo?".Minutos depois sinto meu celular vibrar e vejo no visor o nome de uma amiga. Atendo sem muita expectativa."Alô?" E do outro lado escuto um alô que há tempo não escutava, um alô bem rouco, que um dia fez meus pêlos arrepiarem. Fiquei muda por um bom tempo sem entender aquele alô surpreendente. Voltando à Terra...Percebi que era ele.Ele! Quanto tempo! Ficamos por ... Bem , acho que por uns 8 minutos e 47 segundos ou talvez, 48...Não sei direito, conversando sobre o que estavamos fazendo, o que não tínhamos feito. Aquele papo bem tipico de quem demora muito tempo sem se ver. Mas, a ligação caiu.Fiquei perdida. "Alô? Alô? Cadê você?". Segundos depois, notei que os créditos de minha amiga haviam terminado e por azar, eu não tinha mais nenhum. Entrei em pânico. Mas, como num passe de mágica.Taran!....O telefene vibra mais uma vez era Ele, Ele! Meu coração disparou à 100 por hora, 120, 140, já não sabia. Convidou-me para ir onde estava. Confesso, estava com sono, cansada e disse que não sabia se ia. Havia saido a noite passada e estava meio mole. Charme feminino! Peguei no ímpeto, como é natural de minha personalidade, o carro, saí vestindo o que tinha no corpo e claro, não esqueci do meu batom vermelho( não sabia do poder de um batom vermelho). Corri, feito piloto de Formúla 1, as ruas cheias de crateras de São Luís e imaginei escutando o som do carro, como ele estaria, se ainda possuia o odor e o ar de maturidade, que me fazia tanto lembrar papai. Já havia passado sete anos, que não o via.

Chegando no bar na Ponta d'Areia, o notei sozinho , como de costume tendo uma cerveja, como companhia e aquele sorriso perfeitamente ortodôntico. Tudo parecia não ter mudado. Mas, eu mudei, não era mais aquela jovem, insegura, indefesa, e... Agora, eu era uma loura poderosa, sedutora, com dinheiro no banco, lembrei de Carlos Drummond, no poema: Balada do amor através das idades , quando falava da "loura notavél". Sim, eu era aquela loura notavél, maravilhosa diante aquele homem que um dia amei perdidamente e, eu me perdi mesmo. Perdi tudo , até minha inocência.

Fotogradia do site Indiamovéis
Ficamos ali, por mais de uma hora conversando e conversando, nos admirando, nos apreciando. As pessoas ao nosso redor não existiam, era como num filme, nossa imagem em evidência e, as outras sem foco. Era só nós dois naquela noite de Domingo.
Nos despedimos num longo abraço por um longo tempo, nos falamos coisas sussuradas que só nossa alma e corpo entendiam. Por fim, andamos em direção aos nossos carros e fomos embora, certos de que algo ficou e sempre ficará.

Ao passo que o carro se distanciava daquele local, me sentia calma, serena e vi no velocímetro marcar 40 km, 30km... Não sei quantos menos. Só sei que lembrei de uma música do Chico Buarque e do Tom Jobim: " È desconcertante rever o grande amor".
 

VIPs - o jeitinho brasileiro ao ápice.

Comprei o pirata numa das dezenas de bancas do meu bairro (entrando no clima do filme é um crime 171 e sou cúmplice). Por três motivos: o primeiro que tinha 2 reais trocados no bolso, e o segundo é que gosto das atuações do ator Vagner Moura e o terceiro era um filme brasileiro. Nem li a sinopse e fui assistir. O filme é marcado pela presença do pai do Marcelo (Vagner Moura) aparecendo com o clássico uniforme de piloto de avião Injetando aforismos orientais na cabeça do rapaz talvez assim justificando a construção da psicose maníaca do personagem com sérios problemas de identidade (pra mim se torna um típico malandro brasileiro ao ápice querendo ser um bacana) tentando fazê-lo um grande homem (no caso um aviador como ele). E o cara realmente se torna um piloto de avião (dos pequenos), mas fora dos meios legais (sem servir a Aeronáutica ou passar no ITA) contrabandeando drogas entre a fronteira do Paraguai e do Brasil já com o nome fantasia de Carrera e um boné vermelho cantando e imitando Renato Russo nos bares de Paraguai (cena marcante). Ri um bocado durante o filme e torci pelo sucesso de Carrera (quando li a critica especializada dizem que foi um erro do diretor tentar criar esse vínculo com o espectador, pois o filme é baseado em fatos reais de um homem que sabe que seu destino foi parar na prisão - coisas de quem nao ler sinopse).
Enfim o cara é atuado em flagrante no Paraguai pela Policia Federal brasileira com um carregamento de drogas e depois de um depoimento recebe um rápido alvará de soltura vindo de Brasília. Volta pro sul do Brasil e pra sua mamãe cabeleireira que corta seu cabelo à mauricinho e vai parar mirabolante(mente) no carnaval de Recife como filho do dono da aviação aérea Gol. No meio só de gente bacana o malandro transa com uma coroa rica e sempre bêbada viciada em tarja preta que é a única que sabe que ele é um mentiroso (pois conhece pessoalmente o filho do dono da Gol) e ela ainda topa fugir com ele no jatinho do seu marido (super apaixonada). E ele foge mesmo no jato, infelizmente sem ela (torcia por aquele romance absurdo), logo depois de a farsa ser descoberta quando aparece em rede nacional no programa do Amaury Jr (em carne e osso no filme; dessa vez não sei se atuando). Preso ainda teve  a puta cara de pau de se passar por um membro do PCC e negociar uma rebelião. Não sei quem deve melhor ganhar o kikito de melhor ator se o cara de verdade ou se Vagner Moura.
Depois vendo os créditos do Longa vi que tinha o dedo de Fernando Meireles (Cidade de Deus, Ensaio sobre a Cegueira) e que o gênero do filme é drama. Jurava que era uma comédia. Acho que fui enganado. Puta um 171 esse diretor. Qual o nome dele? O cara é da O² filmes... Patrocínio Federal. Brincadeiras a parte. Me veio a minha memória de cinéfilo a atuação de Matt Damon em o Talentoso Ripley onde um ator interpreta um ator da vida real. Deve ser um interessante laboratório. Que diga Vagner Moura.

D’un seul coup


Na hora certa
Eles têm de partir
Há um que vai
E um outro que ri
Do outro lado
Logo depois
Ela o encontra
E assim vão os dois

D’un seul coup, d’um seul coup, d’un Seul coup, ai ai ai ai ai

Dizendo que gosta
Ela enrola
Virando de costa
Ela rebola
Diz que não pode
Que vai estudar
Que está de bode
Ela sabe enganar!

D’un seul coup, d’um seul coup, d’un Seul coup, ai ai ai ai ai

Por isso que digo
Há sempre um ditado
Um enganador
E um enganado
Portanto, cuidado
Sempre é melhor
Deixá-la de lado
E se virar só

D’un seul coup, d’um seul coup, d’un Seul coup, ai ai ai ai ai

Dessa forma
É bom entender
Aquele que sofre
É o último a ver
Portanto, o amante
É melhor ser
Ele é sempre
O primeiro a saber

D’un seul coup, d’um seul coup, d’un Seul coup, ai ai ai ai ai