domingo, julho 10

Igor e o Rebolar da Puta Feia.

Diego Pires entrevista por via email o escritor e dramaturgo maranhense Igor Nascimento.
Uma vez me disse que Oscar Wilde era um “playboy escolarizado” (risos). E você, como se definiria?
Sou da ala de quem acha que escrever é, antes de tudo, técnica, fruto da prática, de um labor obstinado, não acreditando de uma vez por todas no mito inspiracionista. Todos podem ter boas idéias. Cato insights em conversas com amigos, escutando conversa alheia, lendo jornais etc. Portanto, o que faz o escritor não é uma quintessência, estrelinhas quitanianas que saltitam em sua cabeça, não é o que ele meramente coloca em uma folha de papel, é o “como” ele faz isso. A questão não é o “porquê”, ou “de onde vem”, é a “maneira”, e isso é fruto da prática levada ao extremo. Então, antes de definir como um dandy, tal qual Oscar Wilde, prefiro me definir como um operário.
Tive a oportunidade de ver a primeira apresentação de sua peça “De assalto” (A qual ressaltou a importância dos dramaturgos locais esbravejando ao fim da peça).  Durante o monólogo fiquei confuso com aquele ator confuso e ansioso parecendo uma comédia stand up, mas sem pausas para rir. Fiquei lá na poltrona esperando godot, digo o ladrão – vous parlez francais...? Como o teatro do absurdo, influência seus textos?
Antes de haver um teatro absurdo, existe uma prática absurda que nada mais é do que compulsividade do cotidiano. Vivemos em uma eterna discussão sobre identidade, termo em voga nas mesas redondas acadêmicas, não pela identidade em si, mas pela ausência, ou pelo seu caráter flutuante, incerto, da mesma, o qual o sopro da mídia leva para onde bem entender. O teatro do absurdo, antes de ser meramente um estilo, é uma constatação. Dessa forma, podemos, no simples olhar em torno do que acontece no dia-a-dia, ver que podemos encontrar o ar beckettiano nas filas de ônibus, da lotérica, do SUS, na porta da igreja, ou na espera de uma grande atração, podemos encontrar a atmosfera ionesquiana na confusão dos signos, na incoerência das múltiplas linguagens, no grande número de informações que acabam não formando ninguém concretamente. Antes do teatro do absurdo, é a sua constatação irretorquível que me influência. Daí o “De assalto”: o pequeno burguês solitário que encontra no ladrão a única companhia que pode acessar sua propriedade privada, mas só pode adentrar ali se infligir o seu patrimônio, e aí? O que fazer? “boa noite, seu ladrão, como é que vai?”...
Me disse uma vez que usa do “artificio” em seus textos “enganando o leitor”. Explique melhor isso.
Não sou de escrever tudo de uma vez, tipo à la Victor Hugo, sou mais da escola Flaubertiana, apesar de não gostar nenhum pingo do seu estilo (chato pra cacete). Mas, como ele procedia, fico remoendo o texto, mexendo nas palavras, trocando a ordem dos fatos, imaginando as melhores iscas, uma boa peripécia, adiantando aos poucos o desfecho, ou mascarando-o o máximo possível. Pra ter determinada inteligência o texto deve inteligível (diferente de didático), causar alguma curiosidade, falar o que não se espera, ter movimento, dinâmica, cálculo, tenho que, no ato de escrever, agir como aquele bêbado que fala com a gente cutucando, tenho que provocar o leitor, instigá-lo em vez de simplesmente lhe contar uma boa história, já que ninguém é obrigado a me ler, situação contrária ao que acontece com Flaubert (que na sua época também usou adequadamente seus próprios recursos para ter notoriedade). Sendo mais claro: a puta feia tem que rebolar bem mais do que a bonita, tem eu ter seus artifícios, a maquiagem mais atiçada, o batom mais provocante, caso contrário ninguém co(nso)me.
Você ganhou o prêmio Gonçalves Dias de Teatro com o “Assassinato de Charlene”. A qual foi publicado em livro. Qual a importância desse prêmio pra você e outros ganhadores? Os livros estão disponíveis nos Faróis da Educação? Houve alguma mídia pra divulgação?
Rapaz, eu não faço idéia do que a Secretaria fez com esses livros. Ela me deu 500 e ficou com mais 500, talvez ela distribuiu em algumas bibliotecas. Ignoro completamente, não por ser indiferente a isso, mas por que, depois do lançamento, não houve nenhum trabalho de divulgação. A questão dos prêmios literários aqui em São Luis, pelo menos, é mais uma questão cerimonial, do que uma ação contínua. Fazem um ‘auê’ desgraçado, falam de dinheiro, incentivos, de fomentação de cultura, fermentação de público, não sei o que lá, anunciam os ganhadores, o pagam (nem sempre), editam o livro (depois de um certo tempo que não é muito certo), fazem a noite de autógrafos, chamam a mídia e depois... Depois da cerimônia cada gestor vai para sua casa com a sensação de dever cumprido, ignorando que, depois do prêmio, e isso vem desde os romances de cavalaria medievais, a literatura continua, já que, ao contrário das políticas messiânicas de apoio a cultura, ela é contínua.   
Não mudando tanto de assunto. O Maranhão é absurdo?
Se Maranhão apenas rimasse com contradição, ia ser uma beleza. O atraso no maranhão é inominável. Para se ter uma idéia, antes, tínhamos até uma rixa com o Piauí, uma competição saudável que versava em dizer quem era o Estado mais lascado da confederação, hoje, nós ficamos e o Piauí saiu em disparada (ganhando, obviamente). Sofremos uma domesticação bárbara durante esses anos, tanto que, São Luis estando pior do que a lua, o máximo que vi como protesto foram adesivos intitulados “caostelo”. A manifestação também se tornou uma cerimônia, é um eterno “pra constar” que, mesmo eu sendo categórico neste instante, o fato de a situação continuar praticamente a mesma é a prova cabal de que tudo o que foi feito naquele puta estardalhaço no qual Maria Bigode perdeu as eleições, perdeu as forças e hoje está mais para um “eu fiz” do que para um “eu faço”. Outro exemplo, cadê a casa dos estudantes que fariam da UFMA, pela qual invadiram a reitoria? Aliás, cadê o povo que tanto lutou para ter a casa e depois se evadiu? O interessante é que, na mesma época, saiu na mídia nacional que algumas reitorias foram invadidas, o que me faz questionar: será que foi menos produto do inconformismo do que o embalo da “moda”? O pior é que por detrás de tudo, temos uma terrível ressalva: o Maranhão é uma terra de cultura forte, são João único, carnaval original, um povo hospitaleiro, como se isso bastasse, como existisse apenas isso, como se fosse possível  usar este argumento para maquiar a real situação, trocando a parte pelo todo, a exceção pela totalidade e o pior: tal mascaramento funciona perfeitamente. Daí o absurdo: em vez de se basear nos bons exemplos (Piauí), vivemos destas ressalvas.
Sandro Lúcio ou Chico Buarque?
A diferença do padecer amoroso de Chico Buarque para Sandro Lucio é que o primeiro é muito culto, usa bem as rimas, as inversões, fala no eu-lírico feminino, arranjos esculturais, enquanto o outro, quando se dana a sofrer por uma mulher, sofre, escreve quase igual como pensa e depois canta. Puro e simples. Neste período, prefiro Sandro Lucio ao Francisco...
Por fim deixa um recado, uma saideira (risos) para nós pobres leitores mortais e virtuais. Apesar que o google nos deixará imortal.... É só pesquisar pelo nome.
Como já escrevi mais do que a nêga do leite, vou aproveitar para dizer que o concurso “cidade de são Luis” está aberto, é importante divulgá-lo já que poucos só vão saber que o edital abriu pouco antes de ele fechar, daí não ter tempo pra revisar os textos, concluir o que ficou por fazer, enfim, para endossar um pouco a concorrência é bom informar a todos.

A ponte do Tempo

Por Luis Ferreira

As palavras do nosso saudoso conterrâneo José Tribuzi Pinheiro Gomes, conhecidos por alguns como Bandeira Tribuzzi, construiu a maior estrada concecida até hoje  em sua cidade natal, liganndo o passado e o futuro, imortalizando assim a cidade de São Luis com  seu desejo vibrante de ler assim como ele memso falou : Quero ler nas ruas, fontes, escadarias , torres e mirantes, igrejas e sobrados nas lentas ladeiras que sobem angustia sonhos do futuro e glórias do passado”. Entretanto, o futuro hoje não é de sonhos e as glórias cada vez mais nos buracos.
Conhecida por muito como patrimônio cultural da humanidade a cidade de São Luis tem se transformando lentamente em ruínas sustentadas pelo descaso de gestores públicos transformando-se num imenso lixão. Observado todos os dias por quem passa pelo Projeto Reviver, pode-se testemunhar a falta de manutenção, falta de políticas publicas, os imensos buracos, casarões que faltam desabar em nossas cabeças, desta forma, um grito revoltoso ecoa de uma pouca parcela ludovicense que luta para mudar esta situação. Entretanto o conformismo, que sempre esteve em seu elemento na social-democratica, não condiciona apenas suas táticas políticas, mas sim suas idéias econômicas. Vale ressaltar que a nossa democracia ludovicense é apenas um aparate de destaque para o imenso coronelismo resistente até hoje, uma democracia nascida nos berços da ditadura, uma política local que sempre se trata de um discurso geral soberbo que está maquiada pela mídia, aonde chega a convencer outra parte da população em troca de um pão, neste caso, festas e bebidas de graça.
A memória do povo maranhense está definhando ao poucos e de forma visível. A nossa construção imaterial dá lugar ao odores e ao risco de desabamento. Os casarões de São Luis garantem a continuidade do tempo e a manutenção da cultura, merecem ser respeitados e lembrados. Não sei se a boa cama e a boa mesa de nossos pseudo-políticos enfraquecem as pernas e lhe cegam os olhos que não os deixam perceber que o nosso produto turístico e econômico está prestes ao fim. Cada azulejo que cai, cada tijolo que se fragmenta são perdas notórias da nossa cidadania. Próxima de seus 400 anos a Ilha de Upaon Açu. Comemora com luto a forma grotesca como é liderada. Não deixemos de lembrar, de nossas acomodações dos habitantes que por sua vez permanecem apáticos ao perceberem tudo e não enxergarem nada.
Nestes 400 anos a cidade esqueceu-se das palavras de Tribuzi, quem sabe elas não foram parar em qualquer buraco por aí! Ou então caiu junto com algum casarão, continuando assim apenas o que sobrou, um azulejo, longe de sua terra, chorando de angustia, contrabandeado por algum turista.

FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA

 

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