sábado, junho 11

O grande encontro.



Por Natan Castro.

"Cadê ele?".

"Quem?"

"Dylan!"

"Ah, ele está em Woodstock, mas eu posso trazê-lo!"

"Do it!" (Faça!), mandou John do outro lado da linha.
Foi assim que se iniciou a transa que deu origem a um negócio chamado logo depois de música pop, era dia 28 de agosto de 1964, Lennon havia sido entrevistado pelo jornalista Al Aronowitz e teria dito a esse que Dylan era seu “ego igual” após a informação o jornalista tratou de realizar o encontro, no primeiro contato no hotel em Manhattan na Park Avenue em meio à roadies, jornalistas, policiais, os Beatles ofereceram a Dylan algumas pílulas e Mr. Bob aos Fab Four um baseado recém acendido, Lennon tragou e passou a Paul que tragou e passou a Ringo que iniciante nas artes do fuminho bom, tratou de fumar todo. Até então os Beatles eram a banda mais incendiária do rockabilly inventado por Elvis, Eddie Crocanne, Fats Domino, Juck Berry e outros, cantando sobre amores e desamores, Dylan era fruto do Folk de raiz bebendo volta e meia no copo dos compositores marginais de nova York, seu nome de nascença era Robert Zimmerman mudando para Bob Dylan por conta de seu fascínio pelo genial poeta Galés Dylan Thomas. De fato as coisas mudaram depois daquele 28 de Agosto, os caras de Liverpol lançaram Rubber Soul, Revolver e Sargent Peppers, do outro Mr. Tamborine eletrificou o som influenciado talvez pelas guitarras stratocasters dos ingleses para loucura dos universitários ultra-cabeçoides, lançando entre outras coisa uma obra prima chamada Blonde in Blonde que este vos escreve irá falar um pouco sobre dentro em breve.  Thank you and good night!

Até quando?

Por William Washington de Jesus *
Desde a ocupação da reitoria em 2007 que foi encerrado num acordo na Justiça Federal com a presença do Reitor Fernando Ramos (reitor na época), que garantiu que construísse uma casa no campus e outras que foram estabelecidas nesse acordão.
Com a chegada do Natalino Salgado (sucessor), a casa que estava em fase de construção foi interrompida, sendo que havia verba destinada através do Ministério da Educação que fez o repasse para construção.
Hoje passado 4 anos, a tão sonhada casa do Campus ainda é um sonho, a obra paralisada com forte indícios que será a outra finalidade, ou seja, não ser mais a casa de estudante, o atual reitor foi releito, sem dar garantias concretas que concluirá a casa no campus.
E o mais triste é que os próprios moradores das casas de estudantes em sua grande maioria são coniventes com essa situação, pois não reivindicam e aceitaram passivamente que as casas perdessem autonomia, porque hoje quem faz o processo seletivo é a própria universidade através do NAE (Núcleo de Assuntos Estudantis) e a própria reitoria.
Sendo que antes quem fazia eram as próprias casas de estudantes, a reitoria como forma de calar a boca dos estudantes, principalmente na CEUMA (Casa de Estudante Universitário do Maranhão), está colocando ar condicionado nos quartos, bebedouro, grades de proteção pra conter assalto de ladrões e muitos outros benefícios.
Nada contra esses benefícios, mas uma pessoa esclarecida sabe bem que todos esses benefícios é em troca de seguir as determinações que a mesma impõe. Só o ingênuo acha que não seja isso. Mas teria que ser realmente dessa forma sem trocas ou benefícios, porque é o dever das universidade garantir o acesso e a permanência dos estudantes durante a graduação, principalmente com as casas de estudantes, com a moradia digna e de qualidade.
Mas isso é o sonho distante, a tão sonhada casa do campus da UFMA que o diga, que até hoje não foi concluído. E a verba destinada para esse fim o que fizeram? Até quando os moradores de casa ficarão calados? Quando o Vosso Magnífico Reitor Dr. Natalino Salgado Filho irá concluir a obra da casa e obedecendo a determinação da Justiça Federal?   
* Graduado em História na UFMA e ex-morador de casa de estudante (CEUMA)

Aurélio


Um casal judeu carregando um filho foge da atmosfera eugênica da Europa. Passaportes falsos. Fronteiras. Costa de Portugal. Um navio até Buenos Aires e de lá  o Van Dick a caminho de New York. O navio é abatido por um submarino alemão na costa do Maranhão e entre seus sobreviventes está o casal com a criança. Doado para uma cabocla maranhense e o destino dos pais talvez outro navio. Assim cresce um garoto alto  branco e loiro pelas bandas da região do Tibiri e tem vários filhos. E entre eles é Aurélio. Que logo se muda para a cidade. O bairro do João Paulo. Que pega caranguejo no manguezal do Bacanga pra comer e vende coisas na feira do João Paulo onde ouve numa radio a notícia do suicídio de Getúlio Vargas e o inesquecível silêncio que causou na multidão.  Morando numa casa na rua da cerâmica ao lado do vigésimo e quarto batalhão a qual ia servir com 18 anos e bater continência para a visita do general Castelo Branco. Dispensado do exército vai trabalhar numa loja de eletrodomésticos na rua grande de seu irmão. Frequentar a zona do baixo meretrício com seus amigos e comer misto quente com abacatada nos quiosques ao amanhecer em frente da Igreja do Carmo. Comprar seu fusca e um cordão de ouro e se apaixonar por uma secretária vinda da baixada maranhense que mora numa pensão feminina na rua  são pantaleão. Maria Helena. Piqueniques nas nascentes do rio anil, uma banho na ponta da areia, são marcos, cerveja Cerma, Cassino Maranhense, bailes carnavalescos, um jogo de dama, lança perfume no ar vários copos de uísque tragando cigarros Minister e  eu amo você ao som de Robertos Carlos. Casamento e uma casa construída no Filipinho um bar na ponta da areia, transas, filhos e um irmão querido acabado num poste bêbado na Cohab. O bar não dar certo e parte para o ramo dos pães franceses e no meio da inflação dos anos 80 e das boas madeiras de mangue da ilha ascende no mercado e expande seus negócios no Canto da fabril e Liberdade. Grana. Rio de janeiro. Ilha de Paquetá. Uma volta de bondinho. Um mergulho em Ipanema. Uma foto no cristo redentor com sua família. Filhos numa escola católica de freiras italianas. Sampaio Correia ganha o estadual e o plano real é implantado no governo FHC. Controle ferrenho da inflação e baixo consumo e salario mínimo demarcado. Os economistas dizem que o Brasil precisa de uma moeda forte e uma maior abertura para o capital estrangeiro. Vale do Rio Doce e Alumar privatizada e Macdonald feliz. Ninguém comprava pão como antes. Troca à padaria por um restaurante. Brigas e choros dentro de casa. Filhos nas escolas públicas. Sampaio Corrêa vence a terceira divisão do campeonato brasileiro  e vende-se a casa e logo depois o restaurante. Vamos embora ao jovem conjunto do Cohatrac. Abrimos uma loja de doces e salgados e o mercado não favorecia os pequenos empresários. Quebra. Vários empréstimos, atrasos de pagamento, Serasa e spc. Outra casa vendida. Compra de um sítio afastado da cidade no Jota Lima no município do Paço do Lumiar. Monta-se um lava-jato na estrada da Maioba. Metazil e muita água pra tirar sujeira de carros. Dores na região do fígado e nas articulações e vômitos estranhos.  Passa a frequentar todos os fins de semana uma praia isolada da ilha na baía do Arraial com pescadores nativos. O Guarapiranga. Uma, duas, três semanas por lá. Sururu, camarão graúdo, e uma cerveja Brahma, siri, xiri e uma rede pra dormir. Falência total. Mudança para baixada maranhense. Terra de Maria Helena. Arari. Novos vômitos dores na região do fígado e olhos amarelos. Raiva e impaciência. Estamos no corredor do Socorrão. Sete dias sem uma enfermaria com leitos. Uma correria entre poucos médicos e enfermeiros e muitos doentes. O que ele tem?  Raios-X, hemograma completo, uma tomografia computorizada e um diagnóstico: pancreatite aguda. Uma espera angustiante pra entrar na UTI também sem vagas. Depois de alguns dias conseguimos.  Deitado numa sala de ar condicionada fria e branca vendo um pequeno índio ao seu lado com meningite entubado. Papai me diz raivoso: eu quero ir pra casa. Eu quero morrer em casa. Seu último pedido. E no mesmo dia uma vela acesa se apaga. Um caixão comprado com dinheiro emprestado. Velório na cohab e o enterro no jardim da paz na cova de parentes. Fujo. Escondo-me aos prantos entre anos escondido numa privada qualquer.
...
E nesse retorno ao seu passado sei que tive um pai que teve uma estória e tenho uma mãe três irmãos continuando essa estória e levanto a cabeça e digo: a vida continua e ele está vivo, pois as emoções são eternas como diz a poeta clarice.
P.S: Me lembro quando ouvia toquinho e ficava com aqueles olhos contemplativos no sofá da sala e de nossa vibração nos jogos do sampaio e das longas conversas a caminho do guarapiranga e de um livro seu chamado republica dos becos que criança pegava e não entendia nada.
diego pires