domingo, novembro 27

Obrigado por fazer amor comigo assinado: Vanessa.


Já passava da meia noite quando Morávio andava há 40 km pela orla da praia, destino esse que ele fazia a alguns meses, quando a insônia insistia em voltar. Neste dia algo chamou sua atenção diferente das outras vezes que passou por ali. Andando à mancar estava uma mulher que, usava um vestido prata, parecia ter machucado o pé, segurava nas mãos as sandálias de salto alto. Morávio parou e observou aquela mulher passar próximo de seu carro, percebeu na pouca distância que ela chorava copiosamente, por um instante pensou em ligar o carro e continuar seu passeio pela avenida vazia, mas resolveu seguir lentamente aquela mulher, a cada metro que o carro percorria a frente ele olhava a mulher intensamente, porém ela parecia o ignorar completamente, talvez o motivo do seu pranto fosse suficiente para que essa percepção não acontecesse. Morávio foi tomado por uma certa angústia com a cena. Subitamente parou o carro e começou a seguir aquela mulher, apressou o passo queria chegar mais perto dela, compartilhar da dor, saber o motivo das lágrimas. Ao perceber sua aproximação ela se pôs a correr em direção a areia da praia, ele também, ela jogou fora as sandálias e se jogou em meio às ondas que quebravam sem o menor pudor naquela madrugada. Morávio aumentara mais ainda sua angústia, não restava nada a fazer do que adentrar o mar em busca daquela coisa quase sem sentido.

Após alguns mergulhos ele conseguiu abraçar sua cintura abaixo do nível do mar, por uns segundos ela tentou se desvencilhar, depois exausta convalesceu nos braços dele. Ao iniciar o retorno a areia da praia ele pode observar melhor os traços daquela mulher, a maquiagem borrada por conta do sal das lágrimas e do mar.
Quando Vanessa acordou, abriu os olhos assustada, com uma náusea enorme, sentou colocando os braços sobre o estômago, voltou a deitar, e mais uma vez abriu os olhos inchados de chorar, viu um cara sentado de frente para a sacada do apartamento com uma toalha envolta no pescoço vestido ainda de manga comprida e gravata, em baixo da cadeira uma poça d’água. - "Quem é você?". Perguntou ela, onde estou? Num tom baixo. Morávio virou e respondeu, - "No meu apartamento, eu estava dirigindo na orla"... "Socorro!" Disse Vanessa, levantando-se rapidamente, porém a tontura fez seu corpo tombar quase caindo no chão não fosse à força dos membros superiores dele segurando-a e colocando no sofá. Novamente Vanessa abriu os olhos com um certo esforço e  sentou-se, ele cruzou o vão do apartamento em sua direção com uma xícara de chá.
-"Tome você se sentirá melhor" – disse Morávio. Agora vestindo uma camisa branca e um moletom. Ela tomou a xícara da sua mão e passou a tomar o chá de forma trêmula, aos poucos, olhando para ele penetrantemente.
- Porque me tirou do mar? Quem é você?
- Você ia se afogar.
- Sim eu sei seria bem melhor, não tem mais sentido pra mim. De qualquer forma eu agradeço seu ato, mas eu preciso acabar logo com isso.
- Posso ajudar?
- Infelizmente não, quer dizer pode sim, me ajude a voltar para a praia.
-Desculpe , mas estamos um pouco distante de lá, é tarde não posso deixar você voltar sozinha, você não está em condições.
Após uns segundos Vanessa rompeu o silêncio dizendo:
- Posso lhe pedir outra coisa? Morávio respondeu:

- Não adianta não irei deixar você ir sozinha...
- Por favor, faça amor comigo pela última vez!
Ele olhou para ela tentando entender seu pedido, levantou trocou a faixa que estava tocando, sentou ao seu lado tomando-a novamente nos braços, ela passou a mão em seu rosto iniciando um beijo angustiado, dali pra frente os dois se entregaram ao absurdo do acaso que os levaram até aquele ato, sem motivos, quase sem explicação Morávio misteriosamente desde quando começou a olhá-la andando e chorando na orla, foi levado ao encontro daquela mulher sem entender a razão de tudo aquilo. Quando acordou Morávio não a viu deitada na cama, procurou na sacada, no outro quarto, entrou no banheiro, no espelho estava escrito de batom: “obrigado por fazer amor comigo.” assinado Vanessa. Voltou para sacada já era dia, olhou para baixo tentando achá-la no meio das pessoas que começavam a transitar a avenida no início daquela manhã. Mas ela já estava há alguns quilômetros dali, sentada, chorando de frente para o  mar. Vanessa agora não estava mais certa de sua decisão de acabar com sua vida, ao fechar os olhos, lembrava em forma de flashes das palavras ditas por ele, pronunciadas de forma calma sempre respondendo com bastante atenção a tudo que ela perguntava e dizia, em suas mãos o cheiro diferente, nos lábios o gosto de um beijo recente e verdadeiro, diferente das coisas fugazes que ficaram para trás. Seu choro aumentou junto de uma vontade enorme de sair correndo dali e voltar a encontrar aquilo que procurará por toda sua vida.
Vanessa corria em meio às pessoas, tomou um táxi indicando a direção, entrou no hall do hotel dando as características do hóspede que procurava. – "Desculpe senhora tente se acalmar, o nome do hóspede que procura é Morávio ele pagou a conta há meia hora, infelizmente não se encontra mais no hotel".  Na volta para casa Vanessa ouvia no táxi a voz de Marisa Monte cantando, desilusão dança eu dança você na dança da solidão... E dentro dela uma vontade enorme de continuar.

7 comentários:

Anônimo disse...

ei cris se não fosse pela descrição da foto
eu não saberia que era o mar... ve se tu acha uma melhor - diego

Anônimo disse...

Natan tu podia escrever um conto sobre a mystery girl. Paulo Dias

Anônimo disse...

amigo, de onde vc tirou esse nome? Morávio...hehehe..conto muito bom amei..bjs
NIce

Anônimo disse...

hehehhehe...sei que existe um lugar na Thecoslováguia chamada Morávia, invadida pelos nazis no inicio da II guerra - esse lugar a titulo de curiosidade é a cidade onde se passa parte do romance "A brincadeira" de Milan Kundera.
Diego

Anônimo disse...

"thecoslováquia" nome dificil de escrever da miseria

Anônimo disse...

Boa Paulo, farei isso!! gostei da foto Cris Obrigado, Nice que bom que você gostou bjo, Diego Morávio é tcheco nem eu sabia rsr abraço!!

Natan Castro.

Emma Scarlet disse...

ficou interessante este relato do desespero enamorado!