domingo, julho 31

Nelson não era machista

Por William Washington de Jesus*
Nelson Falcão Rodrigues, mais conhecido como Nelson Rodrigues que viveu toda a sua vida no Rio de Janeiro, apesar de ter sido natural de Recife, foi um dos grandes dramaturgos e intelectuais do Brasil no séc. XX e também um dos mais polêmicos devido as suas concepções políticas e ideológicas foi bastante hostilizado por vários segmentos da sociedade.
É fato que o Nelson Rodrigues apoio o governo dos militares desde o golpe de 1964, fato que o mesmo era anti-comunista e é dele a célebre frase:

 “Ah, os nossos libertários! Bem os conheço, bem os conheço. Querem a própria liberdade! A dos outros, não. Que se dane a liberdade alheia. Berram contra todos os regimes de força, mas cada qual tem no bolso a sua ditadura.”

Mas alguém discorda dessa frase? Apesar do seu posicionamento político e ideológico, o Nelson é muito deturpado por vários segmentos da sociedade, pelos comunistas, socialistas, feministas e outras vertentes de movimentos. A esquerda brasileira até hoje odeia o Nelson Rodrigues, as feministas também o odeiam. A academia também odeia e deturpa, principalmente pela esquerda em razão dos seus posicionamentos.
Mas o Nelson Rodrigues foram poucos intelectuais que teve a coragem de afirmar em suas frases e dramaturgias o perfil do povo brasileiro, enquanto o Gilberto Freyre na sua obra “Casa Grande & Senzala” retrata o processo de miscigenação e relação do senhor “casa grande” e escravos “senzala” afirmando que todo o brasileiro é mestiço, quebrando a concepção europeizante imposta pelas elites e precursor da idéia da “democracia racial”.
Nelson Rodrigues afirma que o povo é promiscuo e pervertido, rompendo o conceito de família imposto pela sociedade machista (a que sempre foi acusado), conservadora, patriarcal, paternalista e cristã.  A família que o dramaturgo retrata, é da alta sociedade, retratando através das suas dramaturgias o que realmente ocorre dentro do ambiente familiar requintado, ao contrário de famílias pobres que são marcados por falta de estrutura social, cultural e econômico, abri as cortinas mostrando a podridão das famílias estruturadas, como o adultério, incesto, bi ou poligamia, mães solteiras, violência doméstica e outras práticas repugnantes pela sociedade conservadora que sempre foi direcionada a famílias pobres.
Respaldando a memorável frase:

“Não existe família sem adúltera.”

“A adultera é a mais pura porque está salva do desejo que apodrecia nela.”

“Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas farmácias, há sempre alguém falando nas senhoras que traem. O amor bem-sucedido não interessa a ninguém.”

“Só o cinismo redime um casamento. É preciso muito cinismo para que um casal chegue às bodas de ouro.”

“Nem todas mulheres gostam de apanhar, só as normais.”

“Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém.”

“O amor entre marido e mulher é uma grossa bandalheira. É abjeto que um homem deseje a mãe de seus próprios filhos.”

A mulher é o centro desse contexto colocado pelo Nelson Rodrigues, é daí que o autor é visto como machista pelas femininas, se é ou não, pode ter sido devido ao fato de viver no seu tempo, em que as mulheres eram tinham papel secundário sociedade e sempre submissa ao homem. Mas há certa má interpretação do que o autor expõe, porque antes de tudo a mulher é o ser humano como homem que tem vontades, desejos, fetiches, perfeições e defeitos como o homem também.
É dele a frase memorável:

“A mulher ideal é dama na mesa e puta na cama”

Alguém discorda dessa frase? Num mundo moderno como os dias atuais, a relação conjugal prevalece dentro da intimidade, seja por parte do homem ou da mulher.
E que predomina são as relações de interesses que está além do romantismo, em que a mulher se modernizou e muito dos últimos anos, que vemos ser comum elas trabalharem fora de casa, serem independentes, casarem-se tarde após ter estabilidade financeira, ter filhos tarde com estabilidade e muitas das vezes sem fazer questão de ter a presença do pai e sendo mães solteiras por opção, relações casuais e sem nenhum compromisso.
Em que os valores sentimentais estão cada vez mais ignorados, prevalecendo o egocentrismo e o individualismo, típico numa sociedade capitalista vigente. O Nelson Rodrigues mesmo sendo anti-comunista, retratou muito da dramaturgia que hoje se reflete muito do nosso cotidiano, principalmente na relação conjugal entre o homem e a mulher. Quem nunca leu ou já ouviu falar daquele livro “Porque os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor?” de Allan e Barbara Pease. Mostrando a diferença do homem e da mulher. O Nelson Rodrigues já retratava, principalmente da célebre frase:

“Os homens mentiriam menos se as mulheres perguntassem menos.”

Na sociedade capitalista que faz o homem pensar mais em si próprio, desprezando os valores sentimentais, o dramaturgo retratou por muitas vezes as relações de interesses por parte do homem e da mulher. Será que ele era realmente machista? Muitos o denominam de pós-moderno, principalmente no tempo em que viveu com a sociedade extremamente conservadora que o denominava de imoral, indecente, devasso e pervertido. Sendo que muitas de suas dramaturgias foram censuradas pelo Estado Novo (1937-1945) no período de Vargas.
É dele as frases que retratam as relações conjugais e o menosprezo aos valores sentimentais que é bem nítido do nosso cotidiano numa sociedade capitalista, desigual, desumano que prevalece o “Eu”, ou seja, o ego e o individualismo.
“Qual quer amor há de sofrer uma perseguição assassina. Somos impotentes do sentimento e não perdoamos o amor alheio. Por isso, não deixe ninguém saber que você ama.”

“O amoroso é sincero até quando mente.”

“Amar é ser fiel a quem nos trai.”

“O dinheiro compra até o amor verdadeiro.”

Alguém discorda dessas frases num mundo em que vivemos hoje, que são desprezados todos os valores sentimentais?
Nelson Rodrigues precisa ser reinterpretado através de suas obras, romper certos conceitos que se tem sobre o mesmo, que o mundo acadêmico, feministas, partidos de esquerda e a sociedade em geral fizeram deturpar a sua imagem devido as suas concepções, mas de forma errônea.

 *Bacharel em História pela Universidade Federal do Maranhão

Homenagem ao meu Herói.

José Ribamar Ferreira, mais conhecido como Ferreira Gullar, em minha humilde opinião o maior poeta desse Pais, e também o maior depois de Rimbaud. Maranhense, comunista, critico de arte, pintor, poeta... poeta no auto sentido da palavra. essa é minha homenagem a esse cara que não vai ser lembrado como um mito e sim uma realidade. Obrigado Ferreira Gullar.


sábado, julho 30

As mulheres são capazes de tudo








Sexta, últimos dias de minhas férias. Tinha que aproveitar cada segundo que me restava de irresponsabilidade e liberdade total. Eu e umas amigas decidimos sair, sair para dançar e claro, paquerar. Sexta-feira á noite em São Luís o que de melhor existe é reggae.

Salão não tão cheio, sem muito calor(coisa rara). Lá depois de algums passos. Reparei que meu vestido estava pedindo para se soltar, assim como, meu corpo e minha alma, também. Disse à minhas amigas que precisava ir ao banheiro, ajeitar o vestido se não ia ficar assim, " totalmente livre", se é que me entendem...

No banheiro observei duas figuras bem peculiares. As duas estavam vestidas assim como: "Popozudas"(nada contra, cada um tem a liberdade de se vestir como bem quiser), "Gostosonas", com suas calças bem apertadas, os seios a saltarem das blusas, cabelos soltos com muito creme, para aguentar o calor que faz num salão de reggae. As mulheres falavam de seus amantes. Uma dizia que a esposa do cara havia ligado para ela, esculhanbando dizendo o que devia e o que não devia. Ai ela disse para o cara: -"Olha diz pra tua mulher me respeitar que não sou vagabunda". Que hilário! Pensei comigo mesma. E eu tentando ajeitar meu vestido e demorando o máximo para apreciar as falas delas. A outra mulher disse assim:-" Ah colega, comigo é diferente o meu amante tem que me respeitar , se não ligo pra mulher dele e digo tudo , tudo que ele faz e deixar de fazer" . E eu, ali parada tentando pegar um minúsculo pedaço do espelho na tentativa de ajeitar meu vestido e achando graça daquela conversa. Mas, o inusitado , o inesperado e o fantástico ainda estavam por vir.

Senti um cheiro bem familiar, aliás toda mulher vaidosa ou até a menos vaidosa é capaz de indentificar aquele odor. Sim era cheiro de esmalte! Meus olhos custaram a acreditar naquela imagem. Um das mulheres ,enquanto conversava sobre as suas aventuras amorosas , pintava as unhas com tamanha maestria. Possuia tudo ali: base, algodão, acetona e o "pauzinho " para tirar o excesso do esmalte. Confesso, nunca em meus recente 30 anos presenciei aquilo em um banheiro feminino e tirei a conclusão: nós mulheres somos capazes de tudo na urgência de nos fazermos belas.

sexta-feira, julho 29

a estrela de cinco pontas

Personagens:
Pai - um velho húngaro exilado no Brasil que trabalhou no ministério das comunicações em Budapeste durante os anos 40.
Filho- um jovem estudante universitário e militante.
Época:
Brasil. Fim dos anos 70. Governo de Figueiredo.
(Na casa do pai.)
É madrugada e o filho entra cansado e afoito com dezenas de panfletos debaixo do braço. Vai direto pra geladeira e toma 4 copos de água. Ouve um murmuro vindo do seu quarto e corre abrindo a porta.
Pai (brabo) - Venha cá, venha cá.
Filho (assustado) – O que aconteceu?
Pai (Chora apontando para a estrela pintada na parede) – Essa estrela matou todos os meus amigos.
Filho ( Atônito) – Mas pai...

quinta-feira, julho 28

lua querida lua

Olha pra mim quando falar com você
Não finja nunca que está prestando atenção
Por favor, lua (não sou da lua)
Gosto de você sabia?
Minguante
Nova, cheia, crescente
Com nuvens ou sem nuvens
Pela manhã quando esta de coadjuvante
E quando você não aparece
Eu fico com uma puta saudade.
Sabe? Te considero muito, respeito, admiro.
Lua querida lua
Converse comigo. Seja minha amiga, seja sincera. Não finja.

paisagem

quarta-feira, julho 27

NOVUELA MEXICANA

No capítulo anterior, Manuelo descobre que a sua amada está casada como seu melhor amigo, Herrrique (num tom normal) ou Henrrrrrrrrique (quando se tem raiva do próprio Henrrrique) e agora neste instante em  que termina oJornal Nacional e começa a novela das nove, Manuelo está prestes a tomar uma trágica decisão. Qual seria? No que implicaria? Quem seriam os envolvidos?Vocês querem que eu pare de fazer interrogações? Como vou conseguir? É um caminho sem volta? Bem, o que quer que Manuelo tenha decidido, com certeza ,não terá como voltar atrás...


 Parte III – A grande surpresa

Várias folhas de papel amassadas no chão. Uma arma sobre a mesa. Uma garrafa de vodka pela metade.

ELE – (amassando uma folha de papel. Chorando compulsivamente) – Firmina! Sua...


Ele pega a arma. Aponta para cabeça, mas se retém.


ELE – ( Com a raiva lhe serrando os dentes) Herrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrique...


Na casa dos Gonzzales. O almoço está sendo preparado.


ELA – (cortando o pimentão) Manuelo Junior!

CRIANÇA – Mamãe!

ELA – (imperativa) Manuelo Junior!

CRIANÇA – (fazendo birra) Mãe!

ELA – (ameaçando) Manuelo Junior, Manuelo Junior...


A criança sai chorando. Manuelo aparece de repente. Ele estava atrás da porta.


ELE – Firmina!

ELA – Ma.. mam... M... Manuelo?

ELE – Firmina!... Manuelo... Manuelo Junior?

ELA – (Abaixando a cabeça. Chora) Oh Manuelo!  



Henrique chega com uma sacola de compras.

O MELHOR AMIGO DE MANUELO – Firminaaa!

Ninguém responde.

O MELHOR AMIGO DE MANUELO – Firminaaa!

Silêncio. Ele entra na cozinha.

O MELHOR AMIGO DE MANUELO – Firmin... Manuelo?!

ELE – (apontando a arma para seu rival) Henrrrique!

O INIMIGO DE MANUELO – Manuelo!  


Continua

terça-feira, julho 26

Recorte

Estaria no lugar certo? Duvidou por alguns instantes. A confirmação dera-se pela presença dele, ou deles, já não tinha certeza se era um, ou alguns, mas duvidou que fossem todos. Havia se preparado para aquele momento, já sabia que encontraria hostilidade e simpatia. Serviu-se da simpatia dos garçons: uísque com algumas pedras de gelo, e aguçou hostilidades dos demais depois da segunda dose. Sim, ela preferia uísque, forte, ácido, antídoto perfeito para suportar aquela noite venenosa.

As palavras fluíam através de sua voz segura e agradável enquanto o choro do malte parecia incomodar o passeio que os demais realizavam pela carta de vinho. Na curva, ela e seu copo. Silenciou-se.

A noite prosseguia aborrecida com as conversas que calavam a música entre pessoas e garrafas vazias. Os brindes eram inexistentes, até o santo fora esquecido. Este não saberia apreciar o vinho, escolher a safra, seguir os rituais catedráticos das vinícolas, como cheirar a rolha, segurar a taça com maestria, sacudindo-a antes de sentir o aroma e enfim degustar. Jamais derramariam o do santo no chão. Lugar luxuoso, ambiente inóspito e pessoas indiferentes. De fato o santo estaria nos botequins com os passarinhos e suas águas entre poesias, cheiros e sabores.

Na terceira dose, o gelo beijava-a com doçura tocando-lhe os lábios. O copo demorava cada vez mais a retornar a mesa, enquanto as sinuosas taças de vinho, abandonadas, soberbamente, o observava. Estariam elas enciumadas por não serem tocadas, por não sentirem o calor daquela boca, a maciez de suas mãos, e, sobretudo a admiração dos seus olhos? Permaneceu em silêncio. O malte percorria suas veias provocando-lhe um leve torpor pelas frágeis palavras que circundavam aquela mesa quadra. Entre uma dose e outra, água... talvez o que de mais puro houvesse entre a mesa e as cadeiras, o gelo não, esse se misturava ao malte e continuava a furta-lhe beijos cada vez mais ousados chegando a tocar a ponta de sua língua macia...assim como seus lábios. A língua já não se continha, desfilava sensual sobre os lábios sugando o malte que escapara do copo deixando rastros em sua boca... Já estava na quarta dose.

Garrafas vazias sobre a mesa, muitas pessoas vazias sobre as cadeiras cenário perfeito para a  futilidade proporcional ao preço do vinho consumido e apreciado com refinamento. As taças suntuosas inquietaram-se. Frases suicidas começaram a ser vomitadas sobre a mesa. Ela, impávida, ouvia, embora tentasse se distrair com o gelo que nadava no uísque.

A primeira frase cortou-lhe os pulsos, não acreditava estar ali. Recolhera as mãos. O gelo sozinho continuava o movimento. A segunda a asfixiara. Passou a mão direita pelo pescoço como se procurasse a corrente inexistente para se enforcar, como não percebera isso antes? A terceira, uma adaga no coração! A mão escorregara pelo decote chegando a tocar o próprio seio na tentativa de estancar o sangue que se espalhara em todo o ambiente, o que lhe segurava? O despedaçar da taça de uma mesa vizinha, a trouxe de volta. Os cacos estavam espalhados por todos os lados.

As taças vazias sorriam e espelhavam seu rosto incrédulo. O lápis preto que contornava perfeitamente seus olhos poderia saltar em linha enquanto sua língua sarcástica costurava a boca de algumas pessoas num esforço sobre humano de lhes fazer um favor, era como se prendesse o botão que fugira de sua casa para nunca mais sair.

Bebida e inteligência; aperitivo e prato principal; um estimulante, o outro afrodisíaco, juntos, potencialmente destrutivos, sobretudo na presença de desconhecidos. Ela sutilmente sedutora e fatalmente educada. Levantou-se bruscamente sob o olhar controlador das taças, beijou o gelo longamente, pegou a bolsa que dormia sobre a mesa e pediu licença.As cadeiras arrilhiaram-se. Era possível ouvir o burburinho das taças. Caminhou lentamente e sem dizer nada a ninguém, abriu a porta da gaiola de ouro e foi em busca dos passarinhos, de suas águas e de todos os santos.

O silêncio trincou as taças. Nada a segurou, nem o copo de uísque. O gelo derretera.


Alice Nascimento

alice por alice

cidade

domingo, julho 24

Contra-mão.


Foto por: Karina C.

Uma balada para Amy.


Ei Amy  que é isso?
Retoca a maquiagem, acende um careta
Não lembre agora que teu grande amor mora na sarjeta
Recue para o lado mais macio da coisa
As cifras deles se confundiram com as do teu coração
Ohh Baby, Ohh my baby
Teus amigos Amy , quem são?
Princesa de pó e brilhante
Please baby retire o excesso da noite anterior
Teu vestido de cetim
Todos os holofotes voltados pra ti
Entenda Amy existe um fim na picada
Tua voz de Diva, teu ollhar de devassa
Teus cabelos de Medusa no cio
Amy na estrada o perigo espreita os limites
Cobain, Janis, Morrison, Cássia Eller ousaram ultrapassar
Ei Amy, o que isso?
O Soul, o show deve continuar.

sexta-feira, julho 22

Rabiscos IV - Riso

Alice por Alice



Entre duas covas,o riso.
A morte da dor

O sepultamento da lágrima

Riso



riso


Para um amigo que me faz sorrir

quarta-feira, julho 20

Segunda Feira em Chelsea, Marillion

Paciência meu anjo enfeitado, paciência minha criança perfumada, um dia eles realmente amarão você... Fish em 1979 largava sua vida de jardineiro para entrar no Silmarillion, uma homenagem ao fascinio que os integrantes tinham pelo livro do J. R Tolkien, ó nome durou pouco tempo em 1980 após serem acionados na jústiça pela familia do escritor os integrantes reduziram o nome para Marillion somente. a critica os enquadrou como neo-progressivo, o primeiro album obteve sucesso com belas canções como Marquet Square Heroes, porém foi com Chelsea Monday que todos se renderam a genialidade de Fish como letrista, de fato sua voz lembra muito a de Peter Gabriel do Genesis, ele mesmo nunca escondeu sua admiração, a métrica das letras, a indescritível presença de palco, as fantasias usadas no show, tudo lembrava o Genesis, mas com o passar do tempo o ex-jardineiro e ator, fugia da  nobre semelhança artistica e deixava sua marca no panteão dos grandes poetas do rock, em 1988 Fish sai em carreira solo, cantando e contando aos fãs suas histórias introspectivas com verdade e poesia, assim como no inicio numa Segunda Feira em Chelsea.

.


Quem não era aquela nega.

Somos uma juventude que não acompanhou o aparecimento sussurrado de João Gilberto, não vimos quando Bethânia gritou carcará aos quatro cantos, não vimos na tevê Sérgio Ricardo quebrando o violão, nem apareceu no nosso jornal do café da manhã as fotos da passeata contra a guitarra elétrica. Não fomos testemunhas das pernas de Gal Costa, nem dos joelhos da Nara Leão. A cor de Milton Nascimento não tocou nosso coração africano. As vaias para Nana Caymmi não causaram nenhuma inquietação na gente. A bunda de Ney Matogrosso não provocou despudor. Não apanhamos na costela pra ver peças de teatro. Não conversamos no dia seguinte sobre a delícia que foi ver aquela cantora Marina Lima arranhando nosso tesão. Não quisemos ser tão gay quanto Cazuza ou Caio Fernando Abreu ou Ângela Rô Rô. Não corremos da polícia pela Rua do Sol para garantir um direito estudantil. Não vimos a empolgação de Gilberto Gil com as radiolas de reggae na praia da Ponta D’Areia.

Somos uma geração pós-coca-cola. Experimentamos da sensação contemporânea da música que se fragmenta e é compartilhada com a velocidade da dispersão do pensamento. Queremos saber tudo e não aprendemos nada. Apesar de tudo isso, nada me tira o prazer do agora, a lucidez de quem vê a produção criativa dos nossos artistas jovens de hoje. O brilho e a beleza de quem te dá um abraço, abre as portas da sua casa e deita na rede contigo pra depois correr e subir ao palco abrindo as penas de pavão com a exuberância de sua arte. E tudo isso no espaço de uma ilha, que tanto reclama quanto surpreende.E a surpresa aqui em São Luís tem sabor exótico, particular, com tendência ao sotaque, ao improviso e à inteligência de uma tradição própria. Tudo isso se evidencia na obra final e a gente nem se dá conta. Passa o tempo e lá vamos nós nos surpreender com gente que dividia conosco o mesmo banco da praça ou o mesmo espaço no Mercado das Tulhas. Quem não era aquele Zeca Baleiro que ninguém prestava atenção na voz rouca, grave, cantando coisas diferentes, meio desafinado, meio transgressor, feio, lá pela Faustina. Quem não era aquele Ferreira Gullar que escrevia no jornal palavras desarrumadas. Quem não era aquela piquena saliente que brincava de improvisar notas no meio da canção da banda do maestro da Escola Técnica. Quem não era aquela moça que cantava no coral de Chico Pinheiro com aquela voz aguda e que sonhava estrear no Teatro Artur Azevedo seu show Cunhã. Quem não era aquele menino que inventava um mundo de fantasias e histórias para desfilar em três dias de Carnaval. Quem não era aquela vocalista de banda de reggae cheia de atitude e olhar mystical..

E quem não era aquela nega de turbante encarnado nas noites do Bar Odeon fazendo ‘suspirar a assustança’ no corpo da gente com seu canto divino?


dicy rocha

terça-feira, julho 19

road moving


Obs: influencia do mov . dogma e tal.....rs

o motoqueiro fantasma

Segunda feira. Rede Globo. Depois da novela das oito: tela quente. Quente mesmo viu; era o motoqueiro fumegante e cadavérico: o Johny Blaze. Mais um quadrinho maniqueísta norte-americano adaptado por Hollywood.  O cara vende a alma pro diabo meio sem querer dando faísca a trama.
O que me surpreende nesses filmes como nas novelas da Globo (o Lucas Sá opinou sobre  o filme cilada.com sendo uma extensão da programação da globo; é bom da um conferida). É a capacidade de atrair um grande público. Esse no caso, deve ser juvenil e adultos. Vi cenas de morte e tal. Não deve ser pra crianças.
Com certeza há muita gente inteligente por trás dessas câmeras (sociólogos dos negócios). Utiliza-se de emoções estereotipadas. Poê um amor complicadinho e previsivel. A mocinha. Um bandido diabólico.  Excesso de efeitos especiais.  A eterna luta do bem e do mal; que está em quase todas as religiões que conheço (Isso não é por acaso desavisados) dentro da sociedade ocidental. E claro, um herói (os norte-americanos são fascinados pelo heroísmo e não é atoa que se consideram os salvadores do mundo).
Meu deus! Não sei mesmo o que podemos ganhar esses filmes; além de entretenimento. Mas que entretenimento infernal (isso não é só um trocadilho). Sinceramente não desejo a ninguém assistir esses filmes. Mas (sendo otimista e contraditório) graças aos quadrinhos norte-americanos comecei a ler literatura. Talvez seja assim um Motoqueiro Fantasma aqui um (Além do) Cidadão kane ali um Movimento Social mais acolá um Sarney acorrentado em chamas no Mojó (to exagerando?).


Obs: Só assisti até a segunda parte (com sono) do filme.

segunda-feira, julho 18

matéria decres(sente)?

A
Velha
escadaria
Sob a velha

A mão aberta
Repedida ao sentir
A pegada do transeunte

A pele enrugada no cimento poroso
Escorre urina exalando uréia pela vagina

A velha sobre a escadaria velha sob a velha


01/04/2004

domingo, julho 17

Band-aid da Johnson

O cheiro do teu cigarro invadiu a casa.
Tive a saudade da madrugada ligeira.
Meu bem, não posso te amar!
Não! Não!
Não agora que meu cartão de crédito estorou

O novo dos teus livros entraram em minha estante
Tive a certeza da verdade doída
Meu bem, não posso te querer!
Não! Não!
Não agora que minha calça jeans rasgou.

[È justo ao meu coração volúvel de atriz de segunda recusar tuas noticias]

A burguesia de tuas camisas expenderam-se no meu varal
Tive a ilusão da mentira santeira.

Meu bem, não posso te ter.
Não!Não!
Não agora que meu único peito usa um band-aid da Johnson.

O Escuro é Chato

Cheguei ontem pela manhã nu no mundo. Não pedi pra mamãe e papai nascer, mas me deram à luz em novembro. Tirando nove meses acho que germinei na folia do carnaval. Cresci e vi a luz do sol e da lua que reflete o sol. Tomei vinho tinto seco da serra gaúcha só e dissertei sobre a morte, nos signos do zodíaco sou um artrópode e no chinês sou um mamífero, será que isso diz alguma coisa de mim? Será que minha personalidade esta premeditada?! Não sei, sei que me apaixonei quando deu um nó na garganta naquele buteco do João. Acabei dormindo bêbado sonhando em ser pastor. Pena que não tinha ovelhas cajado você cachorro quente, mas não esquente baby! Era tudo ilusão de ótica sem final feliz. Sabe?! Me deram um nome, sobrenome, me bateram, derramei sal com água, pensei em voltar, mas estava bem longe, mas voltar pra onde mesmo? Por um triz não me matei, vi o mar, ri, perdi um dente de leite.
- olha uma estrela cadente ali entre aquelas nuvens que me lembram um elefante azul que fazia brincadeiras num circo perto de casa com palhaços contando piadas engraçadas e jogando malabares.
Fiz um pedido: tocar baixo numa banda de blues,
Fiz uma oração e não teve deus que me ajude
Foi em vão foi uma rima idiota que escrevi
Pra rimar oração com vão
- Me dá a mão?
Aperte com força, não solte, por favor, senão, senão eu não sei, talvez, o coração vá acelerar sair do peito sem direção perdido na velocidade da luz. E como eu disse: me deram a luz, me deram varias bandeiras também: futebol, política, medicina e o diabo escambal.
- não fale palavrões!
- palavrão existe para ser ditos, senão não existiam. Oras bolas!
- Não fume! Não beba! Não ouse!
- Vou me retirar do recinto, com licença madame, chega! Vou ali fuder. Me fuder. Me dizer que dizer é pra dizer. Parabéns pra você. Vai casar quando? Adolescente, carente, pervertido, cabeça de vento, onde eu me acho? To perdido. To doente doutor. To com dor de cotovelo.
- tomará tranqüilizantes, antipsicoticos e terá sessões de eletro choque e infelizmente usará uma camisa de força.
- Por quê?
- Por que está descontrolado.
- posso fazer uma ligação local?
- pra onde?
- pra minha mamãe, ela faz uma carne com verduras que é uma delícia, se você provasse. Pra namorada, ela discute coisas que não discuto com ninguém, pro os irmãos, eles me dão dinheiro quando preciso, e claro, ia esquecendo, pro meu pai que foi pro céu e gostava de fritar ovos e salsicha na madrugada quando chegava do jogo da dama.
- qual é o numero?
- esqueci doutor, mas sei de outras coisas. Sei soma, subtração e multiplicar os pães.
- leve ele para a solitária!
- solitária, que isso, um verme?
- um quarto escuro.
- Sabe?! Não gosto da escuridão, me deram a luz, preciso de luzes, tenho medo de ficar só no escuro. O escuro é chato pra caramba.

07/09/2009

sexta-feira, julho 15

protesto ao futebol!

Percebi que quase ninguém ler minhas crônicas sobre futebol (choro). E olha que faço uma correlação com conjetura economica politica social do país ou com grandes autores da literatura (risos). Não é só fubebol galera. Não é uma coisa alienada. Pra mim a bola (aquele negócio redondo que pode ser de meia, de leite, ou da penalti ou mesmo a jabolania falsicada que vc encontra por 17 pilas) se transforma em arte na perna da molecada da periferia que nem tem uma pincel pra pintar um quadro ou um piano pra tocar chopin daí surge nossos dribles mágicos como os de Neymar (isso não é sensacionalismo). É um pablo Picasso do futebol ( risos ). Quem nunca bateu uma peladinha atire a primeira pedra. Quem não vibrou com esse ultimo jogo da seleção (risos), vocês viram o maikon pela direita, como ela avança bem, toque preciso, objetivo, sem medo, saca a moral do cara. Pô! vamo ler minhas crônicas sobre futebol (fico de mal). 

(sem título)

Escutando aqui e lembrando de ti
Um momento junto, só nós dois
Escutando ali e lembrando de você
Um momento, dois, três, quantos você quiser
Que eu invente, meu amor...
Vem e cola teu rosto junto ao meu
Me faça esse favor
Meu coração já está grudado ao teu

Bm, A, Bm, A, D, F#m7...

Rafael Lima

quarta-feira, julho 13

nuit blanche

Solilóquio



- 20:15

            A cidade está louca

- 23:00

Pra mim, parece que  dorme.

- 23:05

Mas, mesmo assim, louca. Mesmo que durma.

- 23:40

Mas está tudo tão calmo, as ruas estão vazias, e os semáforos mandam parar e seguir trânsito algum, como se fossem esquizofrênicos.

- 0:00

Esse silêncio, esse inferno que é a calma, esse vazio que é a madrugada...

- 0:20

E o que tanto te incomoda? Mesmo que a cidade esteja um caos, que fora da tranqüilidade desta rua habite a vida noturna dos bordeis, dos quartos de motéis, dos bares, do fogo, do trago e da fumaça...
A cidade está louca, é um fato, mas só nos resta essa paz incógnita, essa pequena paz que é simplesmente não pensar no caos, mesmo que este esteja a poucos passos, mesmo que no nosso silêncio mais vago permaneça bem distante o som de  uma musiquinha cafona.

- 1:15

Não sei... Eu tenho a impressão que se por estas ruas circulasse o ar da peste, e até se todos morressem, ou daqui fugissem, ainda existiria essa coisa que me agonia... é como se a cidade respirasse... como se por debaixo destes asfaltos corressem linfa e sangue... como se existisse algo por detrás de toda essa bagunça, no entanto, meu caro, eu sei que tudo isto é simplesmente nada, é só um rastro humano, um suor evaporando por todas as paredes, por todos os córregos, pelos fios dos postes, por tudo o que já fora tocado, estando ali, em tudo que couber nas tuas retinas, uma coisa infinitamente superior do que uma simples digital. Eu não entendo como todo um caos pode ter o cinismo de dormir, de fingir que dorme. Como, por que raios de razão, esta cidade finge dormir? Finge fechar as portas das lojas, as portas das repartições públicas, finge tentar, de alguma forma escrota, dizer que não está ali, dizer que as ruas estão vazias, que os motéis estão lotados, que as delegacias tentam inutilmente ficarem de plantão e que, em algum canto, uma família dorme tranqüila sob a vigília dos seus próprios insones?

- 2:22

Não sei você, mas às vezes eu rezo para que o mundo acabe, não por completo, mas apenas seja talhado, logrado o suficiente para se ter um novo começo, que uma onda gigante, um terremoto, um vulcão, sei lá, que o cocô de um pombo, o que quer quer seja, contanto que extermine tudo!  e que se dane os mortos, as criançinhas, as grávidas morrendo no meio do pandemônio, daria tudo só para ver esse novo começo, sabia? Esses novos primórdios. E os filantrópicos iram me dizer, “vai recomeçar a carnificina, o pecado original, as guerras”, tanto faz, serão guerras novas com seus respectivos mortos e sobreviventes, ao invés da maçã, a banana, é mais sugestivo, “e os direitos humanos?”, uma hora ou outra hão de criar algo parecido, “mas isso não é uma repetição?”, é justamente aí onde eu queria chegar, sem me contradizer, que se repita, aos diabos! O importante é recomeçar, é simplesmente apagar tudo e ter nas mãos, não o começo de uma nova era, de um novo império, e sim, de um novo mundo, criado no meio dos destroços, só por meia dúzia de sobreviventes que talvez, diante do escarro desta catástrofe, tenha que inventar até a roda, já pensou, que espetáculo?

- 4:00

A vontade que eu tenho é de jogar qualquer coisa desta janela, de sair pelas ruas quebrando os vidros dos carros, atirando pedras nas portas das lojas, batendo nas portas das casas, tocando as campainhas, não por anarquismo, mas por amor ao barulho, apenas para ver o que foi violentamente atingido se quebrar, para ver o que foi construído de acordo com a sensatez da gravidade, desmoronar com a gravidade do impacto, mas não é por vandalismo, é só para lembrar que aqui ninguém dorme, que aqui não há sono, que aqui só há um repouso extremamente frágil e ingênuo, abalado por qualquer princípio ordinário de desordem.

- 6:30

Às vezes me bate a vontade de não fazer nada, por mais que não fazer nada, por uma seqüência lógica, signifique justamente o contrário... Mas eis o grande prazer, é neste paradoxo sutil em que consiste a volúpia, pois não fazer nada é fazer alguma coisa...       
 A contradição de ficar sentado à beira do mar como se todo dinheiro do mundo estivesse concentrado em uma ou duas cervejas, a contradição de acender um cigarro enquanto as academias estão lotadas de vapores calóricos, enquanto eu conservo exaustivamente meu sedentarismo – o que é a grande marca humana, o grande mote da evolução. Não fazer nada enquanto o mundo se acaba, enquanto os matemáticos ficam carecas, enquanto a ciência caduca, enquanto os plantões médicos ardem em febre, e as delegacias se enchem de queixas. Cá, alheio, e à parte, numa mediocridade apoteótica, fazendo o mínimo de movimento possível entre os quais o mais brusco é o piscar de olhos, e qualquer pensamento, por mais convulsivo que seja, consistiria apenas no prazer obsceno de multiplicar, soma e diminui zeros numa calculadora, e, por mais que as coisas insistam na ditadura do movimento, que as sirenes gritem, que as luzem pisquem, ou que em mim surja a vontade de imprimir qualquer reação, insisto, como um rebelde pacato, em permanecer parado, estático, crendo fielmente no cinismo da minha inércia, na paciência da minha tranqüilidade, na inutilidade de todos os atos, dos heróicos aos infames, na inexistência da existência...       

terça-feira, julho 12

Uma Balada pra Cris

ao som de oasis

hoje eu comprei um presente pra mim mesmo.
como?!
...
ta carente?
sim.
........................................................................
Diga sim quando quiser ou não (fica a vontade)
Sabe que o mundo é legal ilegal e brigue na escola idiota
(Nesses trocadilhos que somos)
Acelere o carro e cante stand by me bem alto
Desvie de um estúpido
Ultrapasse um bêbado
E dê carona a um perdido (always)
Stand by me
Para sempre
Nesses crazis que somos

domingo, julho 10

Igor e o Rebolar da Puta Feia.

Diego Pires entrevista por via email o escritor e dramaturgo maranhense Igor Nascimento.
Uma vez me disse que Oscar Wilde era um “playboy escolarizado” (risos). E você, como se definiria?
Sou da ala de quem acha que escrever é, antes de tudo, técnica, fruto da prática, de um labor obstinado, não acreditando de uma vez por todas no mito inspiracionista. Todos podem ter boas idéias. Cato insights em conversas com amigos, escutando conversa alheia, lendo jornais etc. Portanto, o que faz o escritor não é uma quintessência, estrelinhas quitanianas que saltitam em sua cabeça, não é o que ele meramente coloca em uma folha de papel, é o “como” ele faz isso. A questão não é o “porquê”, ou “de onde vem”, é a “maneira”, e isso é fruto da prática levada ao extremo. Então, antes de definir como um dandy, tal qual Oscar Wilde, prefiro me definir como um operário.
Tive a oportunidade de ver a primeira apresentação de sua peça “De assalto” (A qual ressaltou a importância dos dramaturgos locais esbravejando ao fim da peça).  Durante o monólogo fiquei confuso com aquele ator confuso e ansioso parecendo uma comédia stand up, mas sem pausas para rir. Fiquei lá na poltrona esperando godot, digo o ladrão – vous parlez francais...? Como o teatro do absurdo, influência seus textos?
Antes de haver um teatro absurdo, existe uma prática absurda que nada mais é do que compulsividade do cotidiano. Vivemos em uma eterna discussão sobre identidade, termo em voga nas mesas redondas acadêmicas, não pela identidade em si, mas pela ausência, ou pelo seu caráter flutuante, incerto, da mesma, o qual o sopro da mídia leva para onde bem entender. O teatro do absurdo, antes de ser meramente um estilo, é uma constatação. Dessa forma, podemos, no simples olhar em torno do que acontece no dia-a-dia, ver que podemos encontrar o ar beckettiano nas filas de ônibus, da lotérica, do SUS, na porta da igreja, ou na espera de uma grande atração, podemos encontrar a atmosfera ionesquiana na confusão dos signos, na incoerência das múltiplas linguagens, no grande número de informações que acabam não formando ninguém concretamente. Antes do teatro do absurdo, é a sua constatação irretorquível que me influência. Daí o “De assalto”: o pequeno burguês solitário que encontra no ladrão a única companhia que pode acessar sua propriedade privada, mas só pode adentrar ali se infligir o seu patrimônio, e aí? O que fazer? “boa noite, seu ladrão, como é que vai?”...
Me disse uma vez que usa do “artificio” em seus textos “enganando o leitor”. Explique melhor isso.
Não sou de escrever tudo de uma vez, tipo à la Victor Hugo, sou mais da escola Flaubertiana, apesar de não gostar nenhum pingo do seu estilo (chato pra cacete). Mas, como ele procedia, fico remoendo o texto, mexendo nas palavras, trocando a ordem dos fatos, imaginando as melhores iscas, uma boa peripécia, adiantando aos poucos o desfecho, ou mascarando-o o máximo possível. Pra ter determinada inteligência o texto deve inteligível (diferente de didático), causar alguma curiosidade, falar o que não se espera, ter movimento, dinâmica, cálculo, tenho que, no ato de escrever, agir como aquele bêbado que fala com a gente cutucando, tenho que provocar o leitor, instigá-lo em vez de simplesmente lhe contar uma boa história, já que ninguém é obrigado a me ler, situação contrária ao que acontece com Flaubert (que na sua época também usou adequadamente seus próprios recursos para ter notoriedade). Sendo mais claro: a puta feia tem que rebolar bem mais do que a bonita, tem eu ter seus artifícios, a maquiagem mais atiçada, o batom mais provocante, caso contrário ninguém co(nso)me.
Você ganhou o prêmio Gonçalves Dias de Teatro com o “Assassinato de Charlene”. A qual foi publicado em livro. Qual a importância desse prêmio pra você e outros ganhadores? Os livros estão disponíveis nos Faróis da Educação? Houve alguma mídia pra divulgação?
Rapaz, eu não faço idéia do que a Secretaria fez com esses livros. Ela me deu 500 e ficou com mais 500, talvez ela distribuiu em algumas bibliotecas. Ignoro completamente, não por ser indiferente a isso, mas por que, depois do lançamento, não houve nenhum trabalho de divulgação. A questão dos prêmios literários aqui em São Luis, pelo menos, é mais uma questão cerimonial, do que uma ação contínua. Fazem um ‘auê’ desgraçado, falam de dinheiro, incentivos, de fomentação de cultura, fermentação de público, não sei o que lá, anunciam os ganhadores, o pagam (nem sempre), editam o livro (depois de um certo tempo que não é muito certo), fazem a noite de autógrafos, chamam a mídia e depois... Depois da cerimônia cada gestor vai para sua casa com a sensação de dever cumprido, ignorando que, depois do prêmio, e isso vem desde os romances de cavalaria medievais, a literatura continua, já que, ao contrário das políticas messiânicas de apoio a cultura, ela é contínua.   
Não mudando tanto de assunto. O Maranhão é absurdo?
Se Maranhão apenas rimasse com contradição, ia ser uma beleza. O atraso no maranhão é inominável. Para se ter uma idéia, antes, tínhamos até uma rixa com o Piauí, uma competição saudável que versava em dizer quem era o Estado mais lascado da confederação, hoje, nós ficamos e o Piauí saiu em disparada (ganhando, obviamente). Sofremos uma domesticação bárbara durante esses anos, tanto que, São Luis estando pior do que a lua, o máximo que vi como protesto foram adesivos intitulados “caostelo”. A manifestação também se tornou uma cerimônia, é um eterno “pra constar” que, mesmo eu sendo categórico neste instante, o fato de a situação continuar praticamente a mesma é a prova cabal de que tudo o que foi feito naquele puta estardalhaço no qual Maria Bigode perdeu as eleições, perdeu as forças e hoje está mais para um “eu fiz” do que para um “eu faço”. Outro exemplo, cadê a casa dos estudantes que fariam da UFMA, pela qual invadiram a reitoria? Aliás, cadê o povo que tanto lutou para ter a casa e depois se evadiu? O interessante é que, na mesma época, saiu na mídia nacional que algumas reitorias foram invadidas, o que me faz questionar: será que foi menos produto do inconformismo do que o embalo da “moda”? O pior é que por detrás de tudo, temos uma terrível ressalva: o Maranhão é uma terra de cultura forte, são João único, carnaval original, um povo hospitaleiro, como se isso bastasse, como existisse apenas isso, como se fosse possível  usar este argumento para maquiar a real situação, trocando a parte pelo todo, a exceção pela totalidade e o pior: tal mascaramento funciona perfeitamente. Daí o absurdo: em vez de se basear nos bons exemplos (Piauí), vivemos destas ressalvas.
Sandro Lúcio ou Chico Buarque?
A diferença do padecer amoroso de Chico Buarque para Sandro Lucio é que o primeiro é muito culto, usa bem as rimas, as inversões, fala no eu-lírico feminino, arranjos esculturais, enquanto o outro, quando se dana a sofrer por uma mulher, sofre, escreve quase igual como pensa e depois canta. Puro e simples. Neste período, prefiro Sandro Lucio ao Francisco...
Por fim deixa um recado, uma saideira (risos) para nós pobres leitores mortais e virtuais. Apesar que o google nos deixará imortal.... É só pesquisar pelo nome.
Como já escrevi mais do que a nêga do leite, vou aproveitar para dizer que o concurso “cidade de são Luis” está aberto, é importante divulgá-lo já que poucos só vão saber que o edital abriu pouco antes de ele fechar, daí não ter tempo pra revisar os textos, concluir o que ficou por fazer, enfim, para endossar um pouco a concorrência é bom informar a todos.